29.6.06

 

Muito boa análise sobre o pedido de desculpas da Globo ao Parreira.

29.06.2006 O pedido de desculpas a Parreira pelo quadro de leitura labial no "Fantástico" foi um dos maiores tiros no pé da história da TV Globo. Apesar de parecer um fato isolado e sem maiores significados, a atitude da emissora foi, na verdade, bastante reveladora. O episódio serviu para reforçar uma incômoda imagem que acompanha a Globo desde sua criação: a de uma emissora incapaz de bater de frente com o poder. Em geral, isso significa qualquer tipo de governo. Nesse caso específico, a CBF (o grande poder nacional em época de Copa do Mundo).Em toda essa história, a única nota dissonante foi o pedido de desculpas da Globo. O quadro da leitura labial por jovens surdos é a melhor novidade da cobertura da Copa do Mundo, um procedimento simples, divertido e informativo, que consegue revelar muito mais sobre a personalidade de seus personagens do que as reportagens tradicionais. A irritação de Parreira com o quadro é aceitável, embora o argumento de invasão de privacidade seja, no mínimo, discutível - pois ele é uma figura pública, em espaço público, consciente da exibição de sua imagem para centenas de milhões de espectadores no mundo todo. Mas, se o técnico se sentiu incomodado, ele tem todo direito de expressar sua opinião (apesar de, pessoalmente, acreditar que seus palavrões tenham ajudado a melhorar sua imagem junto aos torcedores, que nunca gostaram muito de seus modos polidos e de suas análises cerebrais do futebol).Agora o pedido de desculpas da Globo – feito ao vivo por Fátima Bernardes no "Jornal Nacional" - é inaceitável. Se a emissora tinha qualquer dúvida ética sobre o quadro, não deveria colocá-lo no ar. Depois de exibi-lo, o compromisso da Globo deve ser com os jornalistas que bolaram o quadro, não com Parreira. Não é à toa que Luiz Nascimento, editor do "Fantástico", tenha ficado indignado com o pedido de desculpas e, segundo o colega Guilherme Fiuza, tenha também pedido demissão de seu cargo – informação depois negada pela Globo (leia a nota aqui).Retratações públicas são para casos de informação errada, de desrespeito à lei, de prejuízo inafiançável a terceiros etc. Não houve nada disso no caso a leitura labial. A Globo teria mil motivos para se desculpar na Copa: o ufanismo de Galvão Bueno, as reportagens sobre tiroleses e salsichões, a escalação errada do jogo contra o Japão. Mas a emissora foi pedir perdão pela única coisa da qual deveria se orgulhar em sua cobertura.O episódio deixa claro que a informação é um produto negociável na Globo. Para ter acesso exclusivo à seleção, a emissora não pode desagradar a CBF e seus comandados. Já a entidade dirigida por Ricardo Teixeira abre as portas do time para a emissora e tem a certeza de uma cobertura favorável. A tática do "uma mão lava a outra" pode ser uma vergonha. Mas está longe de ser uma novidade. É a mesma que a Globo sempre adotou com o poder político, da ditadura militar ao governo Lula. Calil@nominimo.ibest.com.br

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